Às vésperas de completar 71 anos, José Carlos Araújo (PSD-BA) conduzirá a tramitação do processo que tem como alvo o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Isso inclui o sorteio da lista tríplice que conterá o nome do futuro relator da matéria, que será uma escolha dele dentre os três nomes. Oito meses atrás, Araújo derrotou articulação de Cunha para assumir pela terceira vez a presidência do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.
Radialista e administrador, o soteropolitano Araújo iniciou sua atividade política na área de telecomunicações, como diretor da antiga Telebahia. Coincidentemente, a mesma área que alçou Eduardo Cunha nos primórdios da carreira política do hoje presidente da Câmara e alvo de representação no Conselho de Ética, que foi presidente da Telerj. Quando assumiu a presidência da Casa, Cunha tinha um nome indicado para o conselho, Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).
Os adversários de Sá davam sinal de que ajudariam o apadrinhado de Cunha. Sergio Brito, correligionário e conterrâneo de Araújo estava no páreo e dividia apoios. O comando do Conselho de Ética estava nas mãos de outro correligionário de Araújo, Ricardo Izar (SP), que desejava tentar mais um mandato à frente do colegiado, mas acabou traído pelo próprio partido, que aparentemente não via sentido em ter três nomes na disputa.
Essas forças se juntaram e galvanizaram o apoio de outros nomes interessados em derrotar o nome de Cunha, o que permitiu a Araújo conquistar os treze votos que deram a ele seu terceiro mandato na chefia do Conselho de Ética no segundo turno da disputa com o paulista. Sá teve oito votos e com respaldo de Cunha acabou derrotado. Antes do desfecho vitorioso, Araújo era questionado se não estaria interessado em abrir mão da candidatura em favor de Brito justamente para derrotar Sá. “Abrir mão por quê? Ninguém sequer me pediu isso. Por que abriria?”, desconversou ele à época.
Araújo não é do tipo espalhafatoso. Que isso não engane o observador desatento. O presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados não é do tipo que adere à espiral do silêncio quando cercado pelo contraditório. Pede a palavra e marca posição. O estilo contido diante dos microfones dos repórteres não chega a disfarçar a habilidade em fazer política. Foi isso que o levou a derrotar Cunha na disputa com sua improvável candidatura.
Não é raro flagrar Araújo em rápidos cochilos durante sessões no Plenário da Câmara, não quando o tema é telecomunicações – tema preferido do deputado. No quarto mandato seguido na Câmara dos Deputados, Araújo foi três vezes deputado estadual na Bahia, de 1991 a 2002. Passou pelo PDS, partido formado a partir do desmembramento da ARENA, a legenda oficial do regime militar. No mesmo espectro político, ingressou no PFL em 1990, partido em que cerrou fileiras até 2005. Depois disso, passou por PL (2005-2007), PR (2007-2009), PDT (2009-2011) até se filiar ao atual partido, o PSD, em 2011.
Ao ser questionado sobre a tramitação, Araújo procura dissociar a figura do presidente da Câmara do deputado alvo de representação. “Quem será julgado é o deputado Eduardo Cunha, não o presidente da Câmara”, resume em entrevistas sobre o tema. Cunha foi representado por supostamente ter mentido em sua fala na CPI da Petrobras, ocasião em que negou ter contas na Suíça. Documentos enviados por procuradores daquele país associam Cunha à suposta titularidade de quatro contas.
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